O PULO DO GATO AUTOPOiÉTICO
- mirandaraziel
- Aug 26, 2023
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Desenferrujar é preciso
dobra do tempo
alento do rio em suspensão
brio que reflete em cada onda
Precário vento que sussurra
escuridão em manto que tudo cobre
vejo estrelas encrustadas nas janelas
e silhuetas de montanhas que caem.
Setembro com céu vermelho
prematura despedida do verão
a mais caprichosa das estações,
não vá embora!
sem antes recolher
os cacos desse viver
os escombros do meio do ano
o peso do se despedir.
Adeus céus alvos e nuvens profundas,
eis a chegada da bruma
das águas revoadas
e da revoada das gaivotas.
Tudo se esvai entre os dedos
afundando em rastro
que brota feito espuma.
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Vejo a luz das sinaleiras dobrando a esquina
os pássaros revoando do meu lado
instantes suspendidos
verde, vermelho, amarelo que fogem na minha frente
outra linha de asfalto
que se estende feito verso
e aos poucos se vai,
me deixa.

Aforismo
Se cada letra fosse um aforismo
ninguém leria a frase
e confundiria cada crase com desfase
articular versos não é juntar letras,
palavras, ou sentidos
e
é brincar com a desdomesticação da língua
testar os limites do mundo
fugir da parafernália gramatical
é trazer luas torrenciais
vomitar jardins mitocondriais, fazer
a digestão de mananciais <-
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O Pulo do Gato Autopoiético
Ainda que ande só pelo vale da morte
tenho a luz tênue
que desenha poros
sobre a superfície dos meus braços.
Ainda que tenha só um fio de energia
e esteja à beira de desistir
me empurram gerações anteriores
ideais com bocas,
dedos de outrora.
Sou o céu que atravessa o tempo,
uma pilastra incrustada na história,
pirâmide apoiada na eternidade.
Sou o vento que esculpe rochas,
as gotas que moldam a montanha.
Sou as vozes do passado que ecoam,
os passos que um dia caminharam na terra:
o pulo do gato autopoiético.



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